sábado, 9 de abril de 2011


Amar
 
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.


Carlos Drummond de Andrade

4 comentários:

  1. qualquer coisa vinda de Drummond , o poeta de Itabira é muito bom ... ótima escolha esse post , estou lhe seguindo ... me siga :



    http://fleonandthecity.blogspot.com/

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  2. uhnnn... Drummond foi um poeta incrível. Amo suas obras. Gosto do livro "A Rosa do Povo".

    Um abração
    Estou te seguindo.
    Felipe Guasti
    http://consumante.blogspot.com

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  3. Hhahaha seu blog é engraçado e com certeza muito criativo tbm, eu ri muito das tirinhas e fiquei a pensar neste post sobre o amor...Reflexivo... Incrivel..Ja me tornei seu seguidor...Me retribua, siga o meu Petit:

    http://wwwpetitfashion.blogspot.com/

    Bjãoo
    Frost

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  4. Gostei muito do seu blog...
    Muito criativo e com uma identidade própria!!

    Já estou te seguindo; me segui tb!!
    http://modaeexcelencia.blogspot.com/

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